Olá a todos. Depois de ter falado sobre o livro, achei que era uma boa ideia fazer uma entrevista à autora, espero que gostem.
Quando
começou este sonho de começar a escrever e de conseguir publicar um livro?
O escrever surgiu naturalmente, por volta dos sete, oito anos.
Fazia-o em diários, adorava criar redações e tinha um fascínio em escrever para
o jornal da escola, o Tenente Coronel. Mais tarde, nas férias de verão, comecei
a redigir cartas para mim própria, fingindo-me outra pessoa. Inventava países,
línguas, paisagens, cheiros, sons e gentes. Depois respondia-as. Na
adolescência, escrevia letras de músicas. Mas foi com a entrada na faculdade e
com a distância de tudo o que me era querido que a necessidade de escrever
tornou-se real. Fazia-o praticamente todos os dias, num blog e em cadernos. As
pessoas liam, comentavam e incentivavam-me. Aos 19 anos comecei o Distúrbio,
sem qualquer pretensão. Imprimi-o e passei-o de mão em mão. Quando vi que ele
estava a ser bem recebido pelos leitores, decidi que era hora de tentar
publicá-lo.
Sabemos
que o seu livro não foi publicado aqui. O que a levou a tentar tão longe de
casa?
Essa foi outra coisa que aconteceu sem que eu, realmente, fizesse
alguma coisa por isso. Após várias recusas de editoras portuguesas, decidi que,
talvez, o passo estivesse a ser muito grande. Então, comecei a procurar
concursos literários onde pudesse praticar. Descobri a Estronho ao acaso. Vi
que estavam a receber textos para serem publicados numa antologia – CursedCity.
Escrevi mas nunca imaginei ser selecionada. Fui. Mais tarde, já fazia parte de
outras antologias da editora, quando o M. D. Amado questionou-me se não teria
nenhum original escrito. E como eu já era fã da Editora – tanto pelo trabalho
que fazem, como pelo tratamento que dão aos autores e leitores – achei que não
haveria nenhuma razão que me fizesse recusar essa oportunidade. Nem mesmo a
distância.
Pensa
um dia tentar publicar aqui? Ou não quer dar mais oportunidades a editoras
nacionais?
A questão deveria ser: será que algum dia me darão a oportunidade
de publicar no meu país? É claro que eu quero ser editada em Portugal. Terminei
um original recentemente e enviei-o a duas editoras portuguesas. Ambas
aceitaram mas cobravam-me para publicar. Assim não quero. Até poderia fazer um
esforço e guardar dinheiro para isso. E respeito muito quem opta por essa forma
de publicação. Mas, a meu ver, se me pedem dinheiro para publicar algo que me
deu tanto trabalho, a que me dediquei várias horas dos meus dias, durante
tantos meses, é sinal que, ou não está assim tão bom, ou não houve aquele click entre a obra e o editor. Assim
sendo, prefiro aguardar. Tenho 24 anos. A minha oportunidade chegará algum dia.
E se não chegar, é porque não era para acontecer.
Na sua
opinião. Este país gosta de ler? Ou pensa que este país é ignorante?
Uma grande fatia dos portugueses é sensível às artes. Noto que há
uma valorização, do cidadão comum, em relação à música, à representação, à
dança e à leitura. Sempre que entro numa livraria, encontro pessoas sentadas a
ler. Não é difícil achar um leitor nas paragens dos autocarros ou nas salas de
espera. Mas, por outro lado, só vejo isso em pessoas acima de uma certa idade.
Os jovens não estão propriamente afeitos a isso. Preferem as discotecas. Há
exceções, claro, e, felizmente, conheço muitas. Mas acho que isso se deve a uma
triagem que a própria pessoa faz. Procuramos sempre pelos nossos semelhantes,
assim como eles fazem questão de agir da mesma forma. Eu critico quem diz que
ler é perder tempo. E, de igual maneira, sou olhada com ridiculez quando estou
sentada, por aí, a ler ou a escrever.
Agora
uma coisa que todos querem saber. Pode dizer-nos em que está a trabalhar agora?
Bom, na escrita, ando envolvida em vários projetos.
Normalmente, escrevo um romance de cada vez e vou intercalando com contos que
possam surgir. Mas, já no fim de 2012, tinha em mãos três romances e uma
antologia de contos. “A Sombra da Loucura” é a continuação do “A Morte é uma
Serial Killer”, embora possa ser lido separadamente, e é um regresso ao passado
que explicará algumas coisas que ficaram em aberto. “Dependência” conta a
história da Maria, uma assistente social casada e com duas filhas que, perante
um caso bastante complicado de maus-tratos físicos, emocionais e sexuais,
decide adotar o Miguel, um rapaz rebelde de 17 anos. No entanto, essa adoção
não é feita com base num amor de mãe mas, sim, numa relação amorosa que ambos
escondem. É neste romance que tenho trabalhado mais. “Bi” fala sobre uma
rapariga que é bipolar, bissexual e leva uma vida dupla: tem um trabalho dito
normal, durante o dia e, à noite, é acompanhante de luxo. E, finalmente, a
antologia de contos “Casos de Polícia” surgiu de uma conversa que tive, no
Brasil, com a Celly e o Marcelo. Passa-se em 2083, onde Portugal e Espanha são
um só país. A PECV – Polícia Especializada em Crimes Violentos – é orientada
por três personagens principais, ligados à psiquiatria forense e ao profiling
criminal. Cada conto abordará um caso diferente. Não sei se algum será
publicado. Mas estou a divertir-me muito com cada um deles. Para além disso, em
breve, serão abertas as submissões para a antologia “Insonho – durma bem!”, que
reunirá contos de autores portugueses, sobre lendas nacionais. Terá como
autores convidados o João Rogaciano e o Miguel Raimundo, prefácio de EkerSommer
e será organizada por mim. Paralelamente, comecei a escrever sobre maus-tratos infantis, com o objectivo de passar o máximo de informação às pessoas. (http://www.facebook.com/NaoAosMausTratosInfantis)
O que
gostaria de dizer as pessoas que gostam de escrever mas que são desmotivadas
por ninguém as reconhecer?
Em primeiro lugar, se gostam mesmo de escrever, fá-lo-ão para si
próprios sem pensar em grandes triunfos no futuro. Escrever com o pensamento no
dia do lançamento ou com o dinheiro que se vai receber, é tirar qualquer magia
ao ato. Quando escrevo, entro naquele meu mundo. Divirto-me, entristeço-me,
irrito-me, fico mal-humorada, fico bem-disposta. Só
quando acabo é que penso: hum, será que alguém vai gostar disto? O
reconhecimento só vem com muita dedicação, muito trabalho, muitas horas de
empenho, muita leitura e muito treino. Isso aliado a algum talento resulta
sempre. Depois, que tipo de reconhecimento quer ter? Ser lido por algumas
pessoas ou receber o prémio nobel? O reconhecimento passa sempre pela entrega.
Claro que há exceções. Haverá sempre um livro, que sabemos não ser tão bom assim,
mas que é seguido por milhões de pessoas. Vale a pena ter inveja? Vale a pena
pregar a todos os ventos que o livro é péssimo e o nosso é que é bom? Na minha
opinião não. O reconhecimento conquista-se. E se nunca vier, nem que seja por
meia dúzia de pessoas – não vale colocar família e amigos no baralho – é sinal
de que, talvez, as coisas não estejam a ser bem-feitas.
Agradeço à autora por ter respondido a todas as perguntas, e que todos comecem a ler mais. É uma boa forma de aprender.