segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Mais família

      Descobri desde cedo que as vidas não são feitas apenas de fantasia, a realidade dói e custa quando entra no nosso corpo de forma inesperada. Todo o apoio que pensávamos ter dissipa-se e apenas resta um sufoco onde morremos de forma lenta e cruel. Não sei dizer se acontece em todas as vidas, mas há um sofrimento global que não é acompanhado de uma felicidade do mesmo nível. Pensamos nascer, contar com o apoio da família, dos amigos e de tudo, ficar independentes e criar assim o nosso próprio espaço, mas tal coisa nem sempre acontece. A minha família é pequena, e não falo da de sangue, falo sim da minha família que todos os dias me apoia e por vezes me puxa as orelhas (e dói) mas é necessário. Faz-me dessa forma encaminhar e ajuda-me, a família de sangue deveria ter essa função também mas não a executa. É irónico como mesmo em casa podem existir favoritos, é irónico como a falsidade está mais perto ainda do que nós pensávamos  é irónico como as pessoas que nos são queridas se riem nas nossas costas por motivo das nossas escolhas. E se eu fosse gay? E se eu quisesse deixar crescer o cabelo? E se eu não quisesse ter uma vida normal? Iriam rir, certamente também. Acho demasiado doloroso perder os pais quando somos crianças, deve ser horrível e um sentimento de desespero enorme, mas sei que é doloroso quando os vamos perdendo aos poucos por causa dos seus erros e negligência. É como se existissem nas não fossem nada para nós, cumprem as suas obrigações básicas mas não oferecem aquele afecto que é essencial no crescimento de alguém e na formação de uma pessoa.
       Parece que alguns pais não entendem o quanto um bom ambiente em casa pode mudar a vida de alguém no futuro e a tornar mais forte. Não entendem que a educação não é apenas pagar a escola e acordar os filhos de manha cedo para lá irem, a educação é uma coisa maior, baseia-se na disciplina de qualquer indivíduo. A educação deve ser oferecida bem cedo, para os resultados aparecem também de forma prematura e preparar bem rápido uma pessoa para todas as dificuldades que aparecem. Dar uma educação deficiente a alguém apenas mostra que não se importam, mostra um desprezo tão grande que até apetece ter nascido numa família diferente. Gostava que todos entendessem a importância da família, mas de uma boa. Digo boa porque não existem perfeitas, todas discutem e têm os seus problemas. Mas as disfuncionais nem vale a pena existirem. Só causam dor e mais dor, num transtorno que aos poucos vai marcando de forma negativa todo o caminho que alguém vai percorrendo, fazendo-o ter medo do futuro e pensar que o afecto apenas pode ser encontrado fora da sua própria família.
      Alguns pais são simples assassinos.

1 comentário:

  1. O texto revela muita dor. Eu sei do que falas. Tambem na tua idade senti as mesmas revoltas. Escreve para deabafar mas tenta encontrar o equilibrio dentro de ti, porque perderas a vida se te entregares demasiado a dor e os outros podes crer... continuarao a viver.
    Tambem gostaria de publicar este texto no Viver e Sentir. talvez sirva de alerta para o que vai muitas vezes na alma dos jovens.

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